Allocutio – Reunião do Senatus-RJ (Maio/2016)

Hoje, 1º de maio, Dia de São José Operário, 6º Domingo de Páscoa, estamos começando o mês Mariano, no qual a Igreja no Brasil, motivada por uma série de festejos Marianos nesse período (dia 13 – Nossa Senhora de Fátima; dia 31 – Visitação de Nossa Senhora), nos convida a viver mais intensamente nossa devoção à Maria.

E, para falar desse mês de maio, começamos providencialmente com o Evangelho de hoje. Neste Tempo Pascal que estamos celebrando e termina daqui a duas semanas com a solenidade de Pentecostes, a Igreja nos apresenta, aos domingos, a primeira leitura retirada do Livro dos Atos dos Apóstolos, mostrando como a Igreja se expandia e como o Ressuscitado agia na força do Espírito, por meio de seus discípulos. Já os Evangelhos de São João abordam o que teologicamente se chama ‘Os discursos de despedida de Jesus’. Nele, Jesus, de uma certa forma, prepara o coração dos discípulos para o mistério da Sua paixão e começa a fazer a promessa de que os discípulos não ficariam sozinhos, porque Ele enviaria um outro paráclito, o Espírito Santo, e pela força do próprio Espírito, permaneceria continuamente junto dos seus.

Contudo, no Evangelho de hoje, João 14, 23-29, Ele chama nossa atenção para um fato que vai nos ajudar a refletir sobre a figura de Maria e sobre esse mês Mariano. Jesus, diretamente, chama a atenção dos discípulos para a forma como ouvem e guardam as Suas palavras: “Aquele que me ama, guarda a minha palavra e quem não guarda minha palavra, esse não me ama”. Ou seja, Jesus não deixa margem a nenhuma via média de interpretação nesse texto, pelo contrário, de maneira muito contundente, muito firme, muito direta, nosso Senhor diz que o critério para saber se nós O amamos é se de fato guardamos a Sua palavra.

Jesus Cristo nos coloca diante de uma realidade. Ele não quer um amor de palavras, um amor de sentimentalismo. Isso é muito fácil de alguém dizer, tanto nas relações humanas quanto na relação para com Deus. Com muita facilidade as pessoas dizem eu te amo para cá, eu te amo para lá, fazem promessas de uma vida inteira de amor e depois sabemos como é, não dura dois, três meses. Ou seja, um amor da boca para fora. Isso acontece também nas nossas relações para com Deus. Então o Senhor alerta aos seus discípulos e a nós, dizendo que existe um critério para que um discípulo se descubra verdadeiramente discípulo, esse critério é ele guardar a palavra.

O que significa guardar a palavra? Significa em primeiro lugar ter um coração que saiba escutar, não somente aquela escuta da palavra proclamada na liturgia dominical, mas aquela escuta cotidiana, quando na nossa oração pessoal paramos para ouvi-la. Então, guardar a palavra começa por essa escuta, por esse desejo de conhecê-la dia a dia, saber o que Deus tem a nos dizer. Depois, o guardar a palavra deve ir além dessa escuta, tornando-se uma prática de vida, porque se alguém a escuta, conhece as leituras da Bíblia de cor e salteado, de frente para trás, grava, mas não a coloca em prática, essa palavra de nada adianta. Decorou a palavra inteira, mas não está verdadeiramente guardando-a, porque o guardar supõe prática.

E nesse sentido começamos o mês Mariano, movidos por essa palavra de Deus e tendo diante dos nossos olhos Maria como modelo de quem soube guardar a palavra. O evangelho de Lucas repetidamente diz que diante de muitos momentos da sua vida, Maria guardava os fatos e meditava sobre eles em seu coração. Ou outras vezes, diante de frases enigmáticas do seu filho, como por exemplo, no Templo quando reencontra o Menino Jesus e ele diz: ‘Não sabias que devo estar na casa de meu pai?’. Diante dessa palavra de Jesus, o Evangelho diz que Maria acolhia a palavra e a meditava em seu coração.

Maria é para nós modelo de quem escuta a Palavra de Deus, de quem guarda a palavra no seu coração e de quem põe em prática a palavra. Lucas nos diz que a resposta de Maria dada a Deus, por meio daquele Anjo, foi: ‘Faça-se em mim segundo a vossa palavra’. Ou seja, Maria se coloca como serva da palavra, como quem está disponível para deixá-la se concretizar, se realizar na vida dela. E a nossa devoção a Maria deve passar por esse processo de imitação das suas virtudes e tão importante seria se nós, na nossa devoção a Maria, procurássemos imitar essa virtude fundamental que é guardar a palavra. Que bom seria se na nossa devoção nos empenhássemos em ser homens e mulheres que, a exemplo de Maria, guardam, ouvem, acolhem e colocam em prática a Palavra do Senhor na nossa vida. Com certeza, perceberíamos nosso apostolado muito mais fecundo e a nossa vida de fé muito mais fortalecida por uma experiência pessoal com a palavra de Deus.

Então, que nesse mês Mariano, além das nossas orações especiais acrescentadas por ser um mês dedicado a Maria, além das leituras feitas nesse período como uma forma de alimentar também a nossa devoção a Maria, possamos pedir a Deus a graça de ir além, de não sermos só aqueles devotos que contam com a intercessão de Maria, mas devotos legionários que procuram viver em plenitude a devoção, imitando as virtudes de nossa mãe e se formos escolher uma virtude, por que não ficar com essa, que nos é pedida pelo próprio Jesus no Evangelho de hoje: ‘Guardar a palavra em nosso coração’?

Que possamos fazer um propósito de vida e pedir a Deus sabedoria para organizar as nossas atividades, até para tirar alguma coisa que achamos importante, mas que na verdade é supérflua. Quem sabe assim teremos um pouco mais de tempo na nossa vida para ler, ouvir e guardar a Palavra de Deus em nosso coração, como fez Maria, e a colocar em prática no nosso dia a dia, a fim de ser cada vez mais perfeitos diante de nosso Senhor Jesus Cristo, como é o desejo d’Ele para nós e como é também, sem dúvida, o desejo de Maria, nossa mãe e intercessora, modelo de discípula a quem queremos imitar.

Por: Pe. Fábio Siqueira
1 de mai. de 2016

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