Dilexit Nos
Fr. Paul Churchill
Diretor Espiritual do Concilium
Algumas cartas encíclicas de papas são difíceis. Mas não hesito em recomendar a última carta encíclica do Papa Francisco, Dilexit Nos. Há uma profundidade nessa carta sobre o amor no coração de Deus por todos nós, até mesmo pela alma mais perdida, uma mensagem encorajadora para todos nós, pecadores. Certamente, existem alguns parágrafos que exigem reflexão, mas com seu rico uso de textos bíblicos e suas muitas citações de tantos santos sobre o amor no coração de Deus, eleva o coração e inspira a tornar esse amor conhecido.
No primeiro capítulo no Papa focou no coração humano, algo que muitos não param para considerar. O coração refere-se ao contra de cada pessoa, de onde vêm os pensamentos e os sentimentos, onde crescem o bem e o mal, o nosso centro de coordenação. É a fonte de nossa coragem e nobreza, também pode ser o centro de abuso e crueldade, de modo que podemos chamar algumas pessoas de sem coração. Duas pessoas apaixonadas, seus corações batem mais rápido; quando somos decepcionados, podemos falar de nossos corações afundando; quando falamos muitos pessoalmente, falamos de “falar com o coração”. Este lado de nós, com sua capacidade de espalhar um grande bem ou miséria absoluta, é esquecido pelo mundo. Nenhuma inteligência artificial, algoritmo ou sistema de dados e está à altura de lidar com isso. É somente voltando-nos para a pessoa de Jesus, repr3esentada por seu coração, que podemos obter o que os desejos profundos de nossos corações buscam: ser amados e retribuir um amor que nunca soubemos que era possível. Precisamos recuperar nossos corações, algo que só é possível com Jesus.
O segundo, terceiro e quarto capítulo do documento são ricos em citações das escrituras e santos sobre o amor no coração de Deus, trazido a nós pela forma humana de Jesus, com seu coração perfurado, o símbolo humano desse amor. Esses capítulos são para serem rezados mais do que lidos. Parece que Deus está falando aos nossos corações, aquele a quem trespassamos por nossos pecados. Todos devemos procurar sentir o que São Paulo fez, “Ele me amou e se entregou por mim” (Gal 2,20)
O documento percorre santo após santo que tenta sondar o profundo significado de seu coração ferido: Agostinho, Bernado, Boaventura, Catarina de Sena, Francisco de Sales, só para citar alguns. Mas eu quero citar alguns para seu benefício. Então, para começar por Santa Margarida Maria, “Este é o coração que tanto amou os seres humanos, que nada poupou, até esvaziar-se e consumir-se, para lhes mostrar seu amor”. “Ele me pediu o meu coração, o qual pedi que ele tomasse. E ele o fez, colocando-me então em seu próprio adorável Coração, onde me fez ver o meu como um pequeno átomo consumido na fornalha ardente do se”. Ela uma vez o viu abrir seu manto a mostrando seu coração amoroso e adorável, de modo que ela pode ver que ele nos amava ao extremo e, no entanto, recebia tristemente apenas ingratidão e indiferença
Eu estou tocado também pelas palavras do Claude de la Colombière, que Jesus, traído por seus amigos, tratado miseravelmente por aqueles que o prenderam, nunca demonstrou o menor ódio ou indignação. “Apresento-me novamente a este coração, livre de raiva, livre de amargura, cheio, em vez disso, de compaixão genuína por seus inimigos”. Essa compaixão compreensiva está ali para você e para mim!
Teresa de Lisieux escreveu, “Eu preciso de um coração ardendo de ternura, quem vai ser meu suporte para sempre, quem ama tudo em mim, até mesmo minha fraqueza.”, “Desde que recebi a graça de compreender também o amor do Coração de Jesus, admito que isso expulsou todo medo do meu coração. A lembrança das minhas faltas me humilha… mas fala-me ainda mais de misericórdia e amor”, “Se eu tivesse cometido todos os crimes possíveis, ainda assim teria a mesma confiança; sinto que toda essa multidão de ofensas seria como uma gota de água lançada numa fornalha ardente.” A cisão de Santa Teresa é simples, para ter plena confiança e fé no amor, compreensão e compaixão no coração de Jesus por nós, não baseado em algum mérito nosso, mas baseado no prazer que ele tem em nós e no seu desejo de nos atrair para amá-lo.
É chegando a esse amor que somos transformados em seu amor, não que ganhemos Seu amor por quaisquer obras que fazemos. Para citar São Vicente de Paulo, “Deus pede, antes de tudo, por nosso coração- o nosso coração- e é isso que realmente importa. Como é possível que um homem que nada possui tenha mais mérito do que alguém que abandona grandes riquezas? Porque aquele que nada tem o faz com maior amor; e é isso que Deus deseja especialmente”. Deus está tentando conquistar nosso amor e, por meio dessa conquista com amor, passamos a nos unir a Ele no amor aos nossos irmãos e irmãs. Essa é a mensagem do Capítulo 5 desta obra.
O símbolo do coração é apenas isso, um símbolo. Mas é o símbolo em todos os tempos, no mundo pagão e no mundo cristão, que fala do centro da pessoa. Por trás do símbolo está a pessoa que anseia por amor e é capaz de dar muito amor. Em Cristo, é o filho eterno que nos reflete o amor que o pai tem por todos nós.
O mundo talvez ignore a profunda verdade do coração humano. É esse fracasso que leva a muitas doenças morais e espirituais no mundo que faz as pessoas tenham frio, indiferentes, sem coração e inflijam feridas terríveis nos outros e em si mesmas.
Frank Duff tinha uma estratégia simples, seja amigo com as pessoas primeiro, mostre a elas seu amor e carinho por elas. Dessa forma, você abre uma porta para levar o valor curativo do Evangelho aos seus corações (ver, e.g. Manual capítulo 39,2)
O Papa faz uma referência a Nossa Senhora, que ela ponderou todas essas coisas em seu coração. Que nós, seus filhos e servos da Legião, nos juntemos a ela ponderando a profundidade da mensagem de Deus para nós em nossos corações e deixemos que nossos corações sejam transformados por esse amor divino que nos cura de tudo.
Tentei de maneira inadequada transmitir algo desse tesouro de nosso querido irmão Francisco para nós. À medida que a Quaresma se aproxima, quando olhamos particularmente para Aquele a quem nossos pecados traspassaram, tomemos e rezemos. Não leia, ore. Com Nossa Senhora, pondere sobre isso!