Allocutio março 2024

A Encarnação, o Angelus, o Acies
Pe. Paul Churchill, Diretor Espiritual do Concilium

Não podemos jamais ignorar a importância da Encarnação. É o grande momento da história quando Deus se uniu à sua Criação e habitou entre os homens, até mesmo entre os animais, vivendo com um corpo feito do barro da terra. O Te Deum da Igreja coloca desta forma: “Quando você assumiu nossa natureza para salvar a humanidade, você não recuou do nascimento no ventre da virgem”.

Essa palavra “encolher” evoca o seguinte pensamento em mim. Não é fácil para nós entendermos o que esse passo envolveu para Deus. Posso sugerir como uma possível imagem atual que pode arranhar a superfície do que isso significou para Deus: se alguém vivendo um estilo de vida confortável de classe média no Primeiro Mundo optasse por viver no Haiti ou em Gaza do Sudão. Vejo alguma mão levantada nessas comunidades para tal passo? O que nosso Senhor fez, ao vir entre nós para ser tratado tão vergonhosamente como fez, foi fazer um ato ainda mais humilde do que o que uma pessoa rica faria ao se mudar para um dos países mais pobres. Mas para mostrar o quão comprometido ele estava, ele escolheu nascer em um estábulo de animais e morrer em uma cruz. Como Santa Catarina de Sena comentou, somente um grande amor pode explicar alguém dando tal passo.

A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, ao fazer a vontade de seu Pai, também teve a ajuda da Terceira Pessoa da Trindade, o Espírito Santo do amor. Esse Espírito criou um lugar para a Segunda Pessoa pousar e se conectar. Nós a conhecemos como Maria. Como Frank Duff apontou, ela está tão perto do Espírito Santo do amor que, embora permaneça criatura pura, ela é a expressão perfeita do Espírito Santo. Dessa forma, o Espírito Santo preparou em Maria o lugar adequado para o Deus que chega ter um pouso suave e fazer sua morada entre os homens. Ela, por suas boas-vindas e amor, o fez se sentir em casa, auxiliado, é claro, por São José.

Celebramos esse grande evento na oração que chamamos de Angelus. É a oração que comemora o grande evento da história, o momento em que Deus afirmou sua Criação e a nós mesmos. De certa forma, é isso que celebramos no Natal, Deus entre nós. Mas o momento de pura genialidade é a Encarnação, o maior feito da engenharia, o momento da união hipostática, quando Deus se conectou a nós e começou a compartilhar nossa jornada.

Para nós, ovelhas perdidas, tem que ser nosso momento redentor. Ele nos dá a firme âncora da fé e da esperança de que Deus amou tanto o mundo que nos enviou Jesus. E o Angelus nos dá uma chance a cada dia de refletir sobre isso e agradecer a Deus pelo presente que ele nos ofereceu. Não estou ignorando a morte e a ressurreição de Cristo, mas elas seguem daquele primeiro passo de Cristo entrando em nosso mundo. Aquele “Eis-me aqui, Senhor, venho para fazer a tua vontade” de Hebreus (10:5-10) começa radicalmente naquela descida do Céu pela segunda Pessoa da Trindade e continua por toda a sua missão. E com ele, naquela missão, a Criação adota uma disposição semelhante por meio daquela que representa a Criação e a Humanidade: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”.

Portanto, é mais adequado que nós, na Legião, também façamos nosso grande ato de compromisso naquele dia, ou seja, a Festa da Encarnação, ou o mais próximo disso que não faça diferença. O Acies, a grande cerimônia anual para todos os legionários, nos dá a chance de nos unirmos a Maria em seu ato de cooperação total com o Deus que está chegando. Ao nos unirmos a ela e nos identificarmos da melhor forma possível com seu fiat, também nos abrimos ao Deus que está chegando para que ele possa tomar carne em nós. Como diria São Patrício, a quem celebramos hoje, “Cristo em todos os olhos que me veem, em todos os ouvidos que me ouvem, em todos os corações que pensam em mim!” Quanto mais nos oferecermos a Maria, melhor tudo o que Cristo significa se tornará uma realidade em nosso mundo.

“Eu sou toda sua, minha Rainha e Mãe, e tudo o que tenho é seu.” Essa é a disposição de todos na Legião de Maria. Permitimos que ela entre nós, que sabe melhor como responder a Deus, pegue nossa oferta e a use para a glória de Deus. Vamos até ela porque somos, de certa forma, indignos de ir até Deus. Desejamos imitar o melhor que podemos a humildade de Maria. Sabemos que temos tão pouco. Mas também é apropriado que nós, que somos membros pecadores da Criação, nos alinhemos com ela, a sem pecado da humanidade, que, em nosso nome, disse “Sim” a Deus. Ela que organizou os servos em Caná, pode pegar nossa oferta de água e fazer com que seu filho a transforme em vinho da melhor qualidade.

Então eu oro para que todos vocês celebrem o Acies com a melhor disposição e intenções. E mesmo que vocês estejam cientes de seus corações menos que perfeitos, ainda assim, ofereçam seu serviço a ela, o refúgio dos pecadores, porque, afinal, ela é quem permitiu que Deus viesse entre os homens e fez Nosso Senhor transformar água em vinho. Ela pode fazer isso por todos nós. Amém.

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