O mês de agosto que está iniciando é mês das vocações. As celebrações desse mês nos ajudam a perceber a multiplicidade de vocações que existem na vida da Igreja. No primeiro domingo de agosto, celebramos o dia do padre, e somos chamados a rezar e refletir pela vocação do sacerdócio. No domingo seguinte, na celebração do dia dos pais, somos chamados a refletir sobre a importância da vocação para constituir família; uma vez que não são só as vocações ao sacerdócio e à vida religiosa que têm se tornado escassas, mas a vocação da família também. Nós temos visto muitos casais que têm preferido o matrimônio como uma simples união, muitas vezes nem estável, e muitos ainda que têm preferido o cachorro aos filhos! No terceiro fim de semana de agosto nós celebramos o dia do religioso e da religiosa, junto com a celebração da Assunção de Nossa Senhora, e somos chamados a refletir sobre essa outra forma de chamado para a vida da Igreja, na qual homens e mulheres se dedicam a viver de maneira radical o seu batismo, sua consagração a Deus, um carisma específico, uma congregação, uma ordem religiosa. E terminamos o mês de agosto com o dia do catequista, aquele que nos ajuda a nos preparar para os sacramentos e deve nos ajudar também a refletir sobre qual vocação Deus tem para nós.
No dia em que celebramos o dia do padre, as leituras nos apontam para o mistério da Eucaristia. A primeira leitura, do livro do êxodo, é estreitamente unida com o trecho do Evangelho de João 6. Ela nos fala daquele momento em que o povo de Deus no deserto começou a murmurar contra Deus e contra Moisés, porque não tinha pão. E começou a se lamentar, e dizer que era melhor ficar no Egito, na escravidão, porque pelo menos lá havia carne e pão à vontade. E então Deus, sendo misericordioso, faz cair o maná do céu para aquele povo. Veja: o povo é liberto de uma situação de escravidão, tem diante de si a terra da promessa, mas como tudo na vida é necessário passar por um momento de esforço antes de alcançar o prêmio, era necessário que o povo enfrentasse as angústias do deserto, para que pudesse valorizar a terra prometida que ia receber mais a frente. Mas o povo, como todos nós, ao invés de ter o olhar naquilo que Deus vai nos dar, fica pensando nas dificuldades do deserto, e por isso murmura. Mas Deus é tão misericordioso que constantemente vai dando ao povo um alento para que ele não desanime do caminho pesado. E esse trecho da primeira leitura vai ser lembrado pelos ouvintes de Jesus no Evangelho de João 6.
Todo o capítulo 6 de João é o discurso de Jesus do Pão da Vida, inclusive é um ponto de crise do Evangelho de João, porque a partir desse momento, ele diz que muitos deixaram de seguir Jesus. Esse trecho é uma continuação da multiplicação dos pães: Jesus multiplica os pães e se retira para uma outra cidade. A multidão chega na frente de Jesus! Quando Ele se depara com aquela multidão, diz uma palavra dura, mas muito verdadeira, e que serve para nós hoje. Ele diz “Vocês não vieram porque viram sinais, vocês vieram porque comeram pão e ficaram satisfeitos”. E como essa palavra é atual! Eles não estavam seguindo Jesus porque acreditavam em Jesus, porque foram tocados pela Sua palavra, nem porque tinham fé! Eles estavam seguindo Jesus porque era um bom negócio, afinal Ele dá pão de graça! Quanta gente hoje segue Jesus porque come o pão e fica satisfeito! Os católicos que trocam de religião não são fiéis que abandonaram a fé; eles já eram infiéis! Pois os que são verdadeiramente fiéis já comeram o pão que o diabo amassou na Igreja e continuam católicos até o fim! Essas pessoas que mudam de Igreja estão indo atrás de Jesus porque querem pão! E vão atrás de quem oferece mais! Tanto que quando vimos programas de televisão, geralmente há testemunhos de conversão em vista de um lucro recebido. Ninguém vai lá agradecer a graça de suportar o câncer até o fim, ou de no meio da pobreza aprender a partilhar com meus irmãos. Nenhum desses testemunhos é de uma pessoa que se assemelhou a Cristo e aceitou a cruz até o fim, é sempre uma idéia de prosperidade, para atrair as pessoas que não buscam Jesus, e sim o que Ele pode lhes oferecer. Isso é um grande perigo para nós católicos, pois temos medo de que as pessoas realmente saiam da Igreja e começamos a fazer falsas propostas para que elas fiquem. E essa não é a nossa missão, nós temos que manter a autenticidade do Evangelho, para que quando elas notarem que os falsos caminhos que elas procuraram são de fato enganosos, elas saibam onde está a verdade, e possam voltar.
Mas parece que aquela multidão ficou um pouco tocada com as palavras de Deus, pois alguém pergunta “Senhor, o que devemos fazer então, para realizar as obras de Deus?” e Jesus responde “a obra de Deus, é que vocês creiam naquele que Ele enviou, creiam em mim” E outra pessoa perguntou “ mas que sinal tu que realizas?” Ora, a pessoa acabou de participar da multiplicação dos pães e ainda quer mais sinais? E como nós somos assim também, recebemos muitos sinais mas nos momentos de dificuldades precisamos de mais…
Eles queriam um sinal pois se lembraram que no deserto seus pais haviam comido o maná, e aquilo foi um sinal. E Jesus disse “mas não foi Moisés que deu o pão do céu. O verdadeiro sinal não é o maná do deserto, pois o verdadeiro pão do céu é aquele que desce do céu e dá a vida ao mundo. E como não haviam entendido a mensagem de Jesus disseram “Senhor, dá-nos sempre desse pão” E Jesus diz “Mas eu sou esse pão, eu vim para dar a vida ao mundo, e quem vem a mim não terá mais fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede”. Jesus falava da fome e da sede espirituais que nos são saciadas na Eucaristia.
Jesus nos apresenta nesse texto o mistério da Eucaristia, que é Ele descido do céu que se faz pão, e aí nós vemos a beleza do ministério do sacerdote, que está a serviço dessa grande graça de Deus. Como é importante valorizarmos a graça que nós temos de receber a Eucaristia! Nós vivemos numa cidade em que podemos ir à missa todos os dias, pois mesmo se na Paróquia mais próxima não houver missa naquele dia, podemos nos deslocar com facilidade para onde terá missa. Eu tive oportunidade de fazer missão durante o mês de julho numa comunidade em que havia seis meses que não tinha missa! Como é bom podermos participar da missa todo dia se quisermos, é algo que devemos louvar e bendizer a Deus constantemente! Muitas vezes temos muito mais dedicação com outras coisas e não nos empenhamos em ir à missa, em encontrar Jesus eucarístico e fazer nossa adoração… Que hoje, no dia do padre, nós possamos agradecer por esse dom do sacerdócio, e diante desse Evangelho que ouvimos, pela graça que é a Eucaristia: Jesus, pão vivo descido do céu, que vem para nos alimentar, para dar vida ao mundo. E que nós possamos dizer como aquela multidão, só que conscientes, que o Senhor possa nos dar sempre desse pão!
Por: Padre Fábio Siqueira
2 de ago. de 2015